Eu queria estar ali. Em cada um dos ondes repousam meu afeto e admiração. Feito Deus, onipresente, compartilhando das ternuras e agruras dos bilhões de segundos de cada vida. Não estou, no entanto. E isto me lembra a saudade que tenho das minhas próprias vidas, eu que fui muitas de mim, já neste mesmo corpo.
Talvez exista algum espaço em que o tempo, em suspensão, me permita balançar suavemente com um pé no passado, o outro no futuro, deslizando presente entre a consciência completa do todo que continua a me constituir. Talvez exista alguma condição, como nas telas divididas do cinema contemporâneo, de sentir as três instâncias do tempo de uma só vez: o passado tornando-se ainda mais passado, o presente passando, o futuro chegando e eu na ilha de edição, alterando instantaneamente pequenos detalhes e seu desenvolvimento.
Depois de cansar de manipular a vida, sentar-me-ia calmamente no tapete, pernas cruzadas, para ver o filme desta existência enquanto pensava na próxima. Se sentisse falta de qualquer cena, qualquer rosto, diálogo ou cenário simplesmente planejaria a próxima vida para que ela fosse uma coletânea desesperada de melhores momentos, melhores emoções, sensações e sentimentos.
Dormiria então e acordaria com mais um filme na cabeça: uma mistura desconexa de todo aquele contentamento e frenesi, este sim minha obra-prima. Encaixaria esta sessão como uma brincadeira do acaso nesta vida de agora. E então… Então não suportaria tanto desejo, tanta vontade de ser feliz. Finalmente, seria: completamente feliz ou infeliz por tanta ambição e as infinitas possibilidades de dar tudo certo ou tudo errado.